Especialistas alertam pais e professores e recomendam inibir e controlar o acesso a smartphones e redes sociais
Depressão, ansiedade, sedentarismo e insônia são algumas das consequências do uso indiscriminado de telas por crianças e adolescentes, aponta o estudo francês "Crianças e Telas: Em Busca do Tempo Perdido", divulgado em 30 de abril. A pesquisa foi realizada pelo Alto Conselho de Saúde Pública da França, comissão criada pelo presidente francês, Emmanuel Macron. O objetivo foi analisar o problema da exposição das crianças e adolescentes às telas de celulares e computadores.
Apesar do “vício em telas” ainda não ser reconhecido pela ciência, o relatório aponta que o uso de computadores e smartphones - principalmente para acessar redes sociais - serve como fator de risco para o desenvolvimento e agravamento de transtornos mentais e de imagem, uma vez que os jovens tendem a comparar sua vida com aquelas apresentadas no mundo virtual.
Em contrapartida à vida real, a internet permite que as pessoas mostrem sobre si mesmas apenas aquilo que desejam, sejam características verdadeiras ou forjadas e puramente performáticas. É possível ocultar os problemas do cotidiano e “consertar os defeitos” da aparência através da edição e manipulação de imagem, criando uma realidade paralela ao mundo real, o que provoca nos jovens um estranhamento e descontentamento em relação à própria vida.
Além disso, “o nível de exposição das crianças” a conteúdos pornográficos e violentos “parece alarmante”, concluíram os especialistas.
Diante desse cenário, os pesquisadores recomendam que crianças menores de 3 anos não sejam expostas às telas e desaconselham o uso até os 6 anos. Após essa idade, o acesso deve ser moderado e controlado pelos pais, sem substituir ou prejudicar a prática de atividades essenciais para o desenvolvimento dos jovens.
Quanto aos celulares, o relatório considera inapropriado o uso antes dos 11 anos. Após e até a maioridade, o acesso às redes sociais e outros conteúdos digitais deve ser limitado e supervisionado pelos responsáveis.
Livro investiga o colapso da saúde mental das crianças e jovens
Já o psicólogo Jonathan Haidt, no livro “A Geração Ansiosa”, afirma que os pais, muitas vezes, são superprotetores com os filhos quando se trata da vida fora das telas, mas que o uso da tecnologia sequer é supervisionado. O livro foi lançado em inglês no início de abril e chega ao Brasil em julho.
Haidt destaca que crianças são apresentadas a conteúdos inapropriados - e muitas vezes degradantes - por meio de um clique. As consequências vão além da exposição precoce, levando a noções erradas sobre as relações entre homens e mulheres, sexualidade e convivência.
O vício também desfavorece o pleno desenvolvimento cognitivo, uma vez que as brincadeiras e o uso da criatividade - essenciais na infância - ficam de lado para dar espaço a conteúdos prontos para serem consumidos e pensados para capturar o foco das crianças durante o maior tempo possível.
Os prejuízos se refletem na saúde do corpo, prejudicada devido à pouca prática de atividade física e ao desenvolvimento de problemas de visão, como a miopia.
Para o psicólogo, há quatro atitudes a serem tomadas: inibir o acesso a smartphones antes dos 14 anos e às redes sociais antes dos 16 anos, afastar os celulares do ambiente escolar e estimular a autonomia e o livre brincar durante a infância.
Com informações de Revista Fórum, Nexo e G1