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Uma instituição de ensino, pesquisa e inovação constrangida

Constrangimento oceânico

A presença de Jair Messias Bolsonaro na UCS causa um constrangimento oceânico, que aos poucos deixa de ser silencioso pela força das notícias que começam a ganhar corpo sobre os arredores de sua passagem pela Universidade de Caxias do Sul. O anúncio da presença de Bolsonaro na casa da ciência e da filosofia é tão constrangedor quanto seria o anúncio de que Luciano Hang faria uma palestra sobre meritocracia aos que sofrem e são acolhidos em uma casa de passagem idealizada por pessoas como Irmã Dulce ou Madre Teresa de Calcutá. A única diferença perceptível na comparação é que a segunda seria Fake New.

Já deve ter sido oficialmente dito que se trata de uma visita institucional. Sendo assim, o governante viria então conhecer os esforços da pesquisa e inovação de uma Instituição de ensino do interior do Brasil que precisa investir os recursos oriundos das mensalidades dos alunos, ou seja, de mais um esforço da população local, para poder promover pesquisa e inovação. Posta a oportunidade, talvez fosse importante que nossa Instituição cinquentenária adotasse uma postura altiva e reivindicasse, por mérito (como diz Hang e seus seguidores), a ampliação do investimento público como forma de induzir a pesquisa e a inovação no ensino superior.

A justificativa para essa postura reivindicatória seria o fortalecimento de Instituições como a que o recebe e, por consequência, o bem da comunidade na qual está inserida. Contudo, as restrições orçamentárias enfrentadas pelas Universidades Públicas parecem demonstrar, de forma suficiente, que essa não é uma política prioritária. Se assim fosse, talvez, parte do meio milhão de vidas perdidas em uma pandemia poderia ter sido evitada com a afirmação - e não o seu contrário - da ciência e, por consequência, do conhecimento produzido por essas instituições.

Por fim, parece razoável pensar que a postura de uma Instituição cuja razão de existir é a promoção de ensino, pesquisa e inovação deva afirmar o conhecimento como instrumento de impulso do desenvolvimento sustentável e, portanto, de qualidade e dignidade da vida. Uma afirmação que pode ser reconhecida em pesquisas que buscam a ampliação tecnológica do grafeno, por exemplo, em órteses e próteses, artefatos que aliviam a dor e promovem a dignidade humana. A grandeza desta instituição cinquentenária não está na produção de artefatos de eliminação da vida, mas, sim, no fomento de projetos e teses que promovam a tolerância, a pluralidade e o respeito, condições indispensáveis para que a ciência e filosofia possam continuar contribuindo para a vida em suas mais distintas formas de manifestação.
 

Candido Luis Teles da Roza
Diretor do IPLAN Assessoria e Consultoria e professor do quadro de carreira na Universidade de Caxias do Sul na área de conhecimento de ciências sociais

 

Publicado em 08/07/2021 por Assessoria de Comunicação Sinpro/Caxias - Foto Wikimedia Commons